Como primeira análise do Cinema com dendê trago um filme nacional. Estou em uma fase de redescobrir o nosso cinema. Como muitos brasileiros, infelizmente, desisti de acompanhar os filmes nacionais visto a qualidade e a falta de diversidade das produções que estão chegando ao grande público nos cinemas atualmente. Para minha surpresa há diversos filmes bons sendo produzidos por aqui e, para surpresa maior ainda, muitos destes sequer chegam ao cinemas, ficando limitados a festivais e não alcançando o grande público. Mas enfim, esse é um cenário muito maior e cabe muito mais discussão. Foi apenas um parênteses para explicar como cheguei ao filme e informar que ainda falaremos bastante de filmes brasileiros por aqui.
Filme lançado em outubro de 2013, roteiro de Fernando Coimbra e obra que marca a estreia do mesmo como diretor, que até então tinha dirigido alguns curtas. A trama se inicia quando uma Sylvia (Fabíula Nascimento) vai buscar a filha na escola e descobre que a criança foi raptada por uma mulher. Na delegacia Bernardo (Milhem Cortaz), pai da criança, acusa sua amante Rosa (Leandra Leal) como principal suspeita do sequestro da criança.
O roteiro é simples, nada que não estamos acostumados a ver. De fato, como o próprio Fernando Coimbra relatou em entrevistas, a história foi baseada em um notícia vista por ele quando o mesmo ainda era estudante e a ideia trabalhada por mais de quinze anos até virar o roteiro do filme. O grande diferencial é a forma como essa história é contada. Até então somos levados a crer que tudo irá girar em torno de um simples caso de adultério mas aos poucos a trama começa a se desenrolar de tal forma que nos vemos presos querendo saber o que vai acontecer a cada cena. Acompanhamos como Bernardo e Rosa iniciaram essa relação extraconjugal, ora pelo ótica dele ora pela perspectiva dela. O diretor em momento algum toma partido de quem está certo ou errado mas apenas apresenta os fatos, cabendo ao espectador julgar ou não os atos cometidos por estes personagens. É interessante notar como os personagens vão de fato se revelando até o final da história.
O filme não teria o impacto que tem se não fossem pelas excelentes atuações do elenco. Fabíula Nascimento com menos tempo de tela, mas que cada cena, até com poucas palavras, entrega aquilo que é exigido, com um trabalho diferente que estamos habituados a ver dessa atriz. Milhem Cortaz e Leandra Leal protagonizam as cenas mais pesadas do filme. O grande destaque vai para atuação de desta última, com bastante expressividade, as vezes apenas com o olhar consegue transmitir a emoção necessária. Interessante notar como o diretor não seguiu pelo caminho mais fácil e não explorou a imagem de uma criança para cativar o público e forçar uma emoção. Apesar de ser um filme emotivamente pesado há espaço para um alívio cômico, pouco mas há. Em alguns momentos com o delegado debochado interpretado pelo Juliano Cazarré e também pela breve participação da Thalita Carauta.
O diretor valorizou bastante a utilização de locações reais, típicas do subúrbio do Rio de Janeiro, o que aproxima ainda mais o telespectador da história. O clímax do filme é como um nocaute no telespectador que já passou por uma montanha russa de emoções nessa mistura de gênero policial com suspense e drama brilhantemente desenvolvido pelo diretor Fernando Coimbra. Mas também vem como uma nova esperança de que o cinema nacional ainda produz excelentes filmes assim como possui excelentes atores e diretores que devemos prestigiar.
Título: O Lobo Atrás da Porta
Direção: Fernando Coimbra
Elenco: Leandra Leal, Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento
Gêneros: Crime | Drama | Thriller
Gêneros: Crime | Drama | Thriller
Ano: 2013
País: Brasil
Classificação: 16 anos
Duração: 101 min
Nota: 10/10
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